ASSOCIAÇÃO ESCOLA DE BIODANZA
ROLANDO TORO DO RIO DE JANEIRO
Direção: Maria Adela Irigoyen
Turma II - agosto 1994 -
I Maratona: Didata: Mirta Schimini
dezembro 1993
O DIA EM QUE CONHECI ROLANDO TORO
Era um dia especial, muito especial. Chovia pra caralho. Achei que a hora se aproximava. A ansiedade e a curiosidade aumentavam e os ponteiros do relógio andavam mais vagarosamente do que sempre. Na real, não chegava nunca o momento tão esperado. A expectativa dominava, a ponto de me deixar ansiosa.
Saí de casa antes da hora, numa tentativa de adiantar o tempo. As ruas alagadas, a espera da condução, o trânsito lento, sinais fechados, porra, parecia que tudo conspirava contra.
Chego no lugar marcado. Um velho casarão. Subo as escadas e dou de cara com uma turma de dança de salão. Continuo subindo e quando penso que cheguei na sala onde eu queria, outra turma, adolescentes fazem aula de expressam corporal. Subo, desço, subo mais, desço de novo, até que finalmente encontro a sala. Imensa. Praticamente vazia. Mas eu sabia que ia entupir de gente. E não tinha ar-refrigerado.
Pouco a pouco o pessoal vai chegando. Gente demais. Todos à espera, talvez na mesma expectativa que eu. De repente pinta um zum-zum-zum: é ele! Entrando discreto, o caminhar lento, pesado, óculos de velho e uma roupa burguesa, um tanto cafona, um tanto careta. Desconcertante: parece um padre. Nem consigo acreditar que o "papa da Biodanza" seja aquilo. Que decepção. Joguei minha grana fora.
Ele sai e o zum-zum-zum aumenta. A perplexidade impera na sala. Pouco depois, ele volta. Com outra roupa, todo de branco, mais jovial e a energia bem mais vibrante. Até parece mais bonito.
O silêncio é total. Fazemos a "roda inicial" e ele começa a falar:
"Nós, da Biodanza, somos uma nova raça, a da nova inteligência, a inteligência do coração: o amor".
Vamos trabalhar a "fluidez e a afetividade".
A partir daquele momento, troco emoções com pessoas que nunca tinha visto. Uma sensação estranha, incômoda. E ele continua a falar:
"A Biodanza não é para dar bem-estar: é para dar felicidade. E a felicidade é um duro trabalho. Lutem por ela!"
Parece até que tinha lido meus pensamentos.
Todos de mãos dadas, começamos a dançar. Uma valsa de Vivaldi. Incrível como seu peso desaparecera. Ele dança levemente, como se os pés estivessem a um palmo do chão. Eu capto isso. E me sinto levitar...
Com um encanto pessoal, fala da admiração pelo povo brasileiro. "Mesmo com o país desmoronando, as pessoas não perdem o mais importante: o humor e a alegria. E o desejo de mudar a realidade. Betinho é seu homem-símbolo. O Rio, cidade maravilhosa, tem swing e magia, por isso o carioca possui a Biodanza no corpo e no espírito."
Então coloca um samba. Soltamos nossas tensões, nossos grilos, nossos medos e embarcamos na viagem. A alegria na sala é contagiante.
Começa a "vivência de fluidez".
Rolando dá uma demonstração de movimentos, dizendo que"o yin é a vagina da mulher e o yang é o pênis do homem e teremos que fundir um no outro, tudo encaixado, ritmado. Uma bela trepada".
Gargalhadas ecoam na sala.
Sua irreverência é genial; e, a partir daí, ele me ganha.
Continua a "fluidez", agora em duplas, quando de repente, nossos olhos se encontram. Caminha na minha direção, pega minha mão, o ar me falta, sorri, sorrio, fecho os olhos... me deixo envolver pelo toque, por seu movimento corporal, pela música penetrante... e fluímos como se estivéssemos dançando na lua, entre as estrelas, pelas galáxias.
Lentamente vamos voltando, e aterrissamos.
"Vamos viver nossas emoções. Troquem com o outro, ninguém consegue ser feliz sozinho. O caminho é o amor. Ninguém esquece os momentos de amor. É o que fica nas recordações. Amem a tudo e a todos. Amem a humanidade!"
Apesar do calor, do abafamento e do suor que escorre por todo o meu corpo posso divisar a luz que irradia. Está lindo.
Chega o "momento da afetividade".
Fazemos novamente a roda, a mão esquerda de cada um no coração do outro, os olhos fechados e a energia rolando, rolando... Trocamos abraços, carícias. Entregues. Trocamos nossas almas!
Ele fala da alegria de estar ali, da importância da Biodanza em nossas vidas e no mundo. E que a propaguemos, para que no ano 2000, esteja semeada em todo planeta.
Agora dançamos sozinhos, no ritmo da nossa música interior. Livres.
Por último, fala e diz:
"O mundo está numa desordem, o homem está gerando a morte. A Biodanza é a vida. A vida pela vida. Dancem a vida!"
E eu, cada vez mais apaixonada, entro em êxtase. Apaixonada por aquele momento, pela Biodanza e pelo seu criador. Um mestre. Um espírito iluminado pela magia da dança.
Realmente, um dia especial, muito especial.
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