quarta-feira, 18 de julho de 2012

1993 - 1994 "O DIA EM QUE CONHECI ROLANDO TORO" (crônica) E TURMA II

ASSOCIAÇÃO ESCOLA DE BIODANZA 
ROLANDO TORO DO RIO DE JANEIRO

Direção: Maria Adela Irigoyen


Turma II - agosto 1994 - 
I Maratona: Didata: Mirta Schimini




dezembro 1993
O DIA EM QUE CONHECI ROLANDO TORO

        Era um dia especial, muito especial. Chovia pra caralho. Achei que a hora se aproximava. A ansiedade e a curiosidade aumentavam e os ponteiros do relógio andavam mais vagarosamente do que sempre. Na real, não chegava nunca o momento tão esperado. A expectativa dominava, a ponto de me deixar ansiosa.
        Saí de casa antes da hora, numa tentativa de adiantar o tempo. As ruas alagadas, a espera da condução,  o trânsito lento, sinais fechados, porra, parecia que tudo conspirava contra.
        Chego no lugar marcado.  Um velho casarão.  Subo as escadas e dou de cara com uma turma de dança de salão. Continuo subindo e  quando penso que cheguei na sala onde eu queria, outra turma, adolescentes fazem aula de expressam corporal. Subo, desço, subo mais, desço de novo, até que finalmente encontro a sala. Imensa.  Praticamente vazia. Mas eu sabia que ia entupir de gente. E não tinha ar-refrigerado.
        Pouco a pouco o pessoal vai chegando.  Gente demais.  Todos à espera,  talvez na mesma expectativa que eu.  De repente pinta um  zum-zum-zum: é ele! Entrando discreto, o caminhar lento, pesado, óculos de  velho e  uma roupa burguesa, um tanto cafona, um tanto careta.   Desconcertante: parece um padre. Nem consigo acreditar que o "papa da Biodanza" seja aquilo. Que decepção. Joguei minha grana fora.
        Ele sai e o zum-zum-zum aumenta. A perplexidade impera na sala. Pouco depois, ele volta. Com  outra roupa,  todo de branco,  mais jovial  e a energia  bem mais vibrante. Até parece mais bonito.
        O silêncio é total. Fazemos a "roda inicial" e ele começa a falar:
        "Nós, da Biodanza, somos uma nova raça, a da nova inteligência, a inteligência do coração: o amor".
        Vamos trabalhar a "fluidez e a afetividade".
        A partir daquele momento, troco emoções com pessoas que nunca tinha visto. Uma sensação estranha, incômoda. E ele continua a falar:
        "A  Biodanza  não  é para dar bem-estar:  é para dar felicidade.  E a felicidade é um duro trabalho. Lutem por ela!"
        Parece até que tinha lido meus pensamentos.
        Todos de mãos dadas, começamos a dançar. Uma valsa de Vivaldi. Incrível como seu peso desaparecera. Ele dança levemente, como se os pés estivessem a um palmo do chão. Eu capto isso. E me sinto levitar...
        Com um  encanto pessoal,  fala da admiração pelo povo brasileiro.  "Mesmo com o país desmoronando, as pessoas não perdem o mais importante: o humor e a alegria. E o desejo de mudar a realidade.  Betinho é seu homem-símbolo. O Rio, cidade maravilhosa, tem swing e magia, por isso o carioca possui a Biodanza no corpo e no espírito."
        Então coloca um samba. Soltamos nossas tensões, nossos grilos, nossos medos e embarcamos na viagem. A alegria na sala é contagiante.
        Começa a "vivência de fluidez".
        Rolando dá uma demonstração de movimentos, dizendo que"o yin é a vagina da mulher e o yang é o pênis do homem e teremos que fundir um no outro, tudo encaixado, ritmado. Uma bela trepada".
        Gargalhadas ecoam na sala.
        Sua irreverência é genial; e, a partir daí, ele me ganha.
        Continua a "fluidez", agora em duplas, quando de repente, nossos olhos se encontram.  Caminha na minha direção, pega minha mão,  o ar me falta, sorri, sorrio, fecho os olhos...  me deixo envolver  pelo toque,  por seu  movimento  corporal,  pela  música penetrante... e  fluímos  como  se  estivéssemos  dançando na lua,  entre  as  estrelas,  pelas galáxias.
        Lentamente vamos voltando, e aterrissamos.
        "Vamos viver nossas emoções. Troquem com o outro, ninguém consegue ser feliz sozinho. O caminho é o amor. Ninguém esquece os momentos de amor. É o que fica nas recordações. Amem a tudo e a todos. Amem a humanidade!"
        Apesar do calor, do abafamento e do suor que escorre por todo o meu corpo posso divisar a luz que irradia. Está lindo.
        Chega o "momento da afetividade".
        Fazemos novamente a roda, a mão esquerda de cada um no coração do outro, os olhos fechados e a energia rolando, rolando... Trocamos abraços, carícias. Entregues. Trocamos nossas almas!
        Ele fala da alegria de estar ali, da importância da Biodanza em nossas vidas e no mundo.  E que a propaguemos,  para que no ano 2000,  esteja semeada  em todo planeta.
        Agora dançamos sozinhos, no ritmo da nossa música interior. Livres.
        Por último, fala e diz:
        "O mundo está numa desordem, o homem está gerando a morte. A Biodanza é a vida. A vida pela vida. Dancem a vida!"
        E eu, cada vez mais apaixonada, entro em êxtase. Apaixonada por aquele momento, pela Biodanza e pelo seu criador.   Um mestre.  Um espírito iluminado  pela magia da dança.
        Realmente, um dia especial, muito especial.

                       


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